O declínio do domínio tecnológico ocidental: IA, recursos críticos e desafios no Web Summit Lisboa.

No Web Summit Lisboa 2025, líderes globais debatem o futuro da inteligência artificial, robótica e do ecossistema de startups sob a crescente pressão das tensões geopolíticas e da escassez de recursos naturais críticos. Esta análise explora como o possível enfraquecimento do domínio tecnológico ocidental impacta cadeias de suprimentos, políticas públicas, investimentos em inovação e a competitividade de empresas e governos. Palavras-chave: domínio tecnológico ocidental, Web Summit Lisboa, inteligência artificial, recursos naturais críticos, cadeia de suprimentos, startups, geopolítica tecnológica.

A realização do Web Summit em Lisboa tornou-se, em 2025, muito mais do que uma feira de tecnologia: é um palco onde se confrontam diagnósticos e estratégias sobre a correlação entre liderança tecnológica e controle de recursos essenciais. Conforme noticiado por Rojas e Barfield, “Western tech dominance fading” tem sido um mantra recorrente nas discussões da conferência, que reúne executivos, investidores, reguladores e empreendedores para debater inteligência artificial (IA), robótica e o futuro das startups em um cenário de riscos geopolíticos e restrições de oferta de matérias-primas (ROJAS; BARFIELD, 2025).

Contexto: o pano de fundo das discussões no Web Summit Lisboa

O encontro anual em Lisboa ocorre em um momento de transição: avanços rápidos em IA e automação se cruzam com uma mudança estratégica na distribuição global de capacidades industriais e na posse de recursos naturais críticos, como lítio, cobalto, terras-raras e semicondutores. A conjunção desses fatores tem levado analistas e participantes do Web Summit a questionar se o chamado domínio tecnológico ocidental — historicamente sustentado por capital, universidades e empresas multinacionais — está de fato perdendo terreno diante de competidores que promovem modelos alternativos de integração entre Estado, indústria e segurança nacional (ROJAS; BARFIELD, 2025).

As implicações não se restringem ao plano econômico. O deslocamento relativo de poder tecnológico afeta políticas de segurança, cadeias de suprimento de defesa, padrões regulatórios e a capacidade de definir normas internacionais para tecnologias sensíveis, como IA e telecomunicações. Para stakeholders corporativos e governamentais, compreender essa dinâmica é fundamental para planejar investimentos, garantir resiliência e proteger posições estratégicas no mercado global.

Recursos naturais críticos e a nova geopolítica da tecnologia

Um dos pontos centrais apontados pelos participantes do Web Summit é a dependência de matérias-primas específicas para a fabricação de componentes de alta tecnologia. Baterias avançadas, ímãs para motores elétricos, chips semicondutores e outras peças essenciais dependem de fontes concentradas de minerais e processos industriais sofisticados. A concentração geográfica da produção — desde minas até fundições e plantas de refino — cria vulnerabilidades que atores estatais podem explorar para ganhos geopolíticos (ROJAS; BARFIELD, 2025).

Essa dependência tem motivado políticas públicas em economias ocidentais que buscam “reindustrializar” ou “onshore” certas etapas críticas da cadeia de valor. Exemplos incluem incentivos para produção nacional de semicondutores, subsídios a cadeias locais de valor para veículos elétricos e esforços para diversificar fornecedores de matérias-primas por meio de acordos com países produtores na África, América Latina e Ásia. O objetivo é reduzir riscos de interrupção e recuperar influência estratégica, mas essas políticas implicam custos altos e prazos longos de execução.

Além disso, a competição pelo controle de recursos críticos tem atraído atores não tradicionais, ampliando a influência de empresas estatais e de fundos soberanos em regiões ricas em minerais. Essa dinâmica intensifica debates sobre práticas sustentáveis, direitos das comunidades locais e governança, elevando a importância de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) nas decisões de investimento ligadas à cadeia de tecnologia.

Inteligência artificial e a disputa por talento, dados e padrões

Outro tema recorrente no Web Summit foi a competição por talento, estruturas de pesquisa e padrões regulatórios em IA. A liderança em IA não depende apenas de poder computacional e capital; requer ecossistemas robustos de universidades, centros de pesquisa, disponibilidade de dados e regulação clara que promova confiança e interoperabilidade. Países e blocos econômicos que conseguirem alinhar esses elementos estarão em melhor posição para ditar padrões e obter vantagens comerciais e estratégicas.

No âmbito empresarial, a corrida por modelos avançados de IA tem levado empresas ocidentais a repensar estruturas de investimento e parcerias internacionais. Ao mesmo tempo, a emergência de alternativas tecnológicas e modelos de negócio em outras regiões mostra que o monopólio de inovação já não é automático. Como sintetizam Rojas e Barfield, há uma percepção crescente de que o domínio tecnológico ocidental está sendo contestado em múltiplas frentes, o que exige respostas integradas em pesquisa, educação e regulação (ROJAS; BARFIELD, 2025).

Para governos, a agenda inclui promover formação avançada em ciência de dados e engenharia, facilitar a mobilidade de talentos, e estabelecer marcos regulatórios que equilibrem inovação com proteção de direitos fundamentais — privacidade, segurança e transparência nos algoritmos. A padronização técnica e a liderança normativa emergem como instrumentos tão estratégicos quanto a própria capacidade produtiva.

Startups, capital de risco e a redistribuição de inovação

O ecossistema de startups presente no Web Summit evidencia como a inovação está se redistribuindo geograficamente e setorialmente. Embora centros tradicionais — Vale do Silício, Londres, Berlim — mantenham relevância, novas rotas de financiamento e hubs regionais ganham tração, muitas vezes conectadas a prioridades industriais locais, acesso a recursos e políticas públicas direcionadas. Essa diversificação pode reduzir a hegemonia tecnológica ocidental, ao permitir que soluções relevantes emerjam em escala regional e alcancem mercados globais.

Investidores e empreendedores discutiram estratégias para mitigar riscos associados à volatilidade geopolítica: diversificação de mercados, parcerias industriais locais, e modelos híbridos de financiamento que associam capital privado a fundos públicos. A transformação do financiamento, com a participação ativa de capitais estatais e investidores institucionais estrangeiros, também altera o perfil de risco-retorno das startups, com implicações para governança e independência tecnológica.

Impactos nas cadeias de suprimentos e estratégias empresariais

A fragilidade das cadeias globais exposta nos últimos anos — por pandemias, conflitos e restrições comerciais — foi tema central nas mesas do Web Summit. A resposta empresarial tem variado entre diversificação de fornecedores, realocação de fábricas, aumento de estoques estratégicos e investimento em capacidade de produção local. Essas medidas, porém, têm custo e complexidade operacional, especialmente para empresas que operam em mercados altamente competitivos.

Em muitos setores, a busca por resiliência conflita com a lógica de redução de custos que marcou as últimas décadas. A consequência é um trade-off entre eficiência e segurança estratégica. Para empresas ocidentais, recuperar vantagem tecnológica implica também reavaliar modelos de terceirização e investir em competências proprietárias críticas, desde processos de manufatura avançada até design de chips e integração de sistemas de IA.

Regulação, alianças e a construção de blocos tecnológicos

O Web Summit evidenciou que o futuro do sistema tecnológico global dependerá tanto de decisões corporativas quanto de coalizões políticas. Alianças regionais e internacionais para garantir fornecimento de minerais, interoperabilidade de sistemas e investigação conjunta em áreas sensíveis têm sido identificadas como instrumentos para contrabalançar estratégias de atores que buscam consolidar influência.

Ao mesmo tempo, regulações nacionais e blocos regulatórios (por exemplo, iniciativas europeias) tentam harmonizar exigências sobre segurança, privacidade e ética em IA, o que pode tanto facilitar a internacionalização de produtos quanto criar barreiras de entrada para concorrentes que não atendam a esses requisitos. Políticas industriais, como subsídios e incentivos fiscais, surgem como ferramentas para estimular a recuperação de capacidades perdidas e fomentar inovação estratégica.

Desafios ambientais e sociais na cadeia tecnológica

A expansão de tecnologias verdes e de mobilidade elétrica, por exemplo, aumenta a demanda por minerais específicos, intensificando pressões ambientais em regiões de extração. No Web Summit, participantes ressaltaram a necessidade de incorporar práticas de desenvolvimento sustentável e circularidade ao planejamento industrial: reciclagem de baterias, refino responsável, redução de impactos sociais e fortalecimento de regulamentação ambiental.

Essa preocupação é particularmente relevante para empresas ocidentais que buscam manter padrões mais altos de ESG, o que pode aumentar custos em comparação a concorrentes que não internalizam os mesmos critérios. A solução exige investimentos em inovação para reduzir a intensidade material por produto, criar cadeias circulares e desenvolver alternativas materiais e processos de reciclagem eficientes.

Caminhos estratégicos para atores ocidentais

Diante das tendências discutidas no Web Summit Lisboa, atores ocidentais dispõem de várias alavancas para mitigar riscos e recuperar competitividade:

– Investir em ecossistemas de talento e pesquisa, fortalecendo universidades, centros de P&D e programas de atração de especialistas.
– Promover políticas industriais orientadas à resiliência, com incentivos para produção de componentes críticos, semicondutores e valor agregado local.
– Diversificar fontes de matérias-primas por meio de parcerias internacionais transparentes e investimentos em reciclagem e substitutos tecnológicos.
– Harmonizar regulação para criar mercados confiáveis e previsíveis, onde inovação e conformidade caminhem juntas.
– Estimular capital de risco e mecanismos de financiamento que favoreçam escala global para startups com tecnologia estratégica.
– Fomentar a cooperação internacional para definir padrões éticos e técnicos em IA, garantindo influência normativa.

Essas medidas exigem coordenação entre setor público e privado, visão de médio-longo prazo e aceitação de custos iniciais em troca de maior segurança estratégica.

Riscos e cenários alternativos

Não há garantia de sucesso automático: políticas mal calibradas podem resultar em protecionismo ineficiente, aumento de custos para consumidores e distorções de mercado. Por outro lado, a inação pode levar a perda de liderança tecnológica e dependência crescente de fornecedores pouco alinhados a normas democráticas ou de governança que garantam segurança e direitos.

Cenários otimistas consideram que o Ocidente conseguirá rearticular investimentos em pesquisa, parcerias industriais e formação de talentos para manter relevância em segmentos críticos. Cenários pessimistas preveem fragmentação crescente do sistema tecnológico global, com redes paralelas e maior risco de choques comerciais e tecnológicos.

Conclusão: implicações para tomadores de decisão

O Web Summit Lisboa 2025 evidenciou que a discussão sobre o suposto “declínio” do domínio tecnológico ocidental é multifacetada. Não se trata apenas de saber quem lidera em número de patentes ou capital levantado, mas de avaliar a convergência entre recursos naturais, capacidades industriais, padrões regulatórios e ecossistemas de inovação. Conforme reportado por Rojas e Barfield, a percepção de que “Western tech dominance fading” funciona como um alerta para repensar estratégias integradas de segurança, investimento e sustentabilidade (ROJAS; BARFIELD, 2025).

Para líderes empresariais e formuladores de políticas, a mensagem central é a necessidade de agir com pragmatismo: mitigar vulnerabilidades de curto prazo enquanto se constrói resiliência de longo prazo. Isso requer coordenação internacional, compromissos com práticas sustentáveis e uma visão clara sobre quais capacidades devem ser priorizadas. O sucesso dependerá da velocidade e da qualidade das decisões — e da capacidade de transformar preocupações estratégicas em políticas e investimentos concretos.

Referências (citação ABNT no texto)
ROJAS, Daxia; BARFIELD, Tom. Western tech dominance fading at Lisbon’s Web Summit. Space Daily, 11 nov. 2025. Disponível em: https://www.spacedaily.com/reports/Western_tech_dominance_fading_at_Lisbons_Web_Summit_999.html. Acesso em: 11 nov. 2025.
Fonte: Space Daily. Reportagem de Daxia Rojas e Tom Barfield. ‘Western tech dominance fading’ at Lisbon’s Web Summit. 2025-11-11T04:33:00Z. Disponível em: https://www.spacedaily.com/reports/Western_tech_dominance_fading_at_Lisbons_Web_Summit_999.html. Acesso em: 2025-11-11T04:33:00Z.

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